sexta-feira, 22 de junho de 2012

Falta de interesse pode ser sinal de dificuldades para enxergar


Ter dificuldade para enxergar pode se transformar num grande obstáculo no caminho rumo à aprendizagem. Um problema quase sempre de solução simples, como o uso de um óculos de correção, por exemplo, muitas vezes ultrapassa a questão de saúde e chega às salas de aulas.

Isso porque não conseguir ver com nitidez as letras na lousa ou as indicações da professora à frente da turma, invariavelmente, tira a atenção das crianças do que está sendo ensinado. E o espaço fica aberto para a falta de estímulo e até o abandono escolar.

"Quando ela voltava da escola, muitas vezes dizia que não tinha conseguido terminar de copiar toda a lição. Achava que ela era lenta para copiar, nem imaginava que poderia ser problema de visão", conta a dona de casa Juliana Prado, de 33 anos, mãe da pequena Laura Prado Santos, de 7 anos, que há um ano descobriu nos óculos para correção de astigmatismo uma nova maneira de ver o mundo.

Segundo dados do programa de alfabetização solidária do Ministério da Educação (MEC), 22,9% dos casos de evasão escolar no Brasil acontecem por conta de problemas de visão. Uma pesquisa recente feita pelo Instituto Penido Burnier, de Campinas, com 365 alunos daquela cidade, apontou que o baixo rendimento escolar estava ligado à falta de óculos para 51% das crianças.

Sorocaba não tem dados locais, mas o volume de alunos que, após triagem, feita por profissionais do programa Escola Saudável, passaram a usar óculos mostra um pouco da realidade. De 2005 a 2011, 125.763 estudantes foram avaliados. Destes, 21.055 foram encaminhados para consulta oftalmológica e 4.676 apresentaram problemas de visão.

Segundo a oftalmologista pediátrica Roseli Aeko Itano Horita, casos de crianças com dificuldade de enxergar são bastante comuns e quase sempre as desconfianças partem do ambiente escolar. "No consultório, meus maiores aliados são as escolas e os pediatras. Antigamente, a gente recebia crianças com 7, 8 anos de idade. Hoje em dia, como as escolas passam a fazer parte da vida delas cada vez mais cedo, elas também vêm mais cedo." Porém, a médica alerta que perceber um problema visual só quando a criança inicia a vida escolar pode não ser um bom caminho.

Isso porque submeter um aluno ao exame de acuidade visual somente na época de início da alfabetização, por volta dos cinco anos, pode ser tarde demais para a correção de problemas que, se detectados e tratados mais cedo, podem ser sanados.

Ambiopia

Segundo Roseli, é mais fácil perceber que a criança tem dificuldade para enxergar quando existem problemas nos dois olhos. "Ela tropeça, não reconhece os brinquedos ou as outras pessoas", ensina.

A dificuldade está em detectar falhas de visão em apenas um dos olhos, a chamada ambiopia, provocadas por estrabismos (mesmo leves, por vezes não perceptíveis aos leigos), alterações como miopia, astigmatismo e hipermetropia ou qualquer outra que bloqueie a visão. Nesse caso, como um dos olhos está saudável, a criança brinca e se comporta normalmente.

Ter dificuldade para enxergar com um dos olhos pode prejudicar o desenvolvimento da visão, que atinge sua maturidade somente aos 6 anos de idade. "Temos muitos casos em que a criança só tem grau num olho. Se não usar óculos, o cérebro não aprenderá a enxergar. Se não corrigir até os seis anos, será um adulto que terá, fatalmente, uma visão prejudicada". Por causa disso, a oftalmologista orienta que os pais levem seus filhos para um exame de visão bem antes de iniciarem o período de alfabetização escolar.

O ideal é que a criança seja avaliada pelo menos uma vez, por um oftalmologista, até os três anos de idade. Nestes casos, os tradicionais testes envolvendo letras são realizados com a ajuda de desenhos e figuras. Há
alternativas para detectar problemas de visão inclusive em bebês.

Ver o mundo

Segundo a médica, apenas um grau de miopia já é suficiente para atrapalhar o desempenho das crianças na escola. "Eles desviam, perdem o interesse pelo fato de não estarem conseguindo enxergar direito". O diagnóstico de que uma criança precisa usar óculos quase sempre é mais traumático para os pais do que para o próprio paciente.

"Chorei muito quando fiquei sabendo disso", confessa Juliana, lembrando do dia em que o médico deu a notícia que envolvia a saúde da pequena Laura. Os pais da menina, que cursa o 3º ano do ensino fundamental da escola estadual Arquimínio Marques da Silva, nunca desconfiaram de que ela poderia ter algum problema de visão, apesar das frequentes queixas de dor de cabeça quando a garota voltava da escola.

"Eu não uso óculos e meu marido só usa agora, por causa da idade. Mas ela reclamava muito e as dores foram aumentando". O alerta veio após uma triagem realizada na escola.

Laura diz que também não gostou muito da ideia de ter que colocar o acessório. "Achei que ia ficar feio. Mas escolhi esse modelo, do Snoopy. No primeiro dia meus amigos disseram que eu estava estranha, mas bonitinha", diz a garota.

Roseli Horita conta que, ao contrário do que possa parecer, quando realmente necessitam, as crianças se mostram extremamente cuidadosas e responsáveis em relação ao acessório.

"Quando precisa mesmo, a criança usa, porque os óculos passam a fazer diferença na vida dela". Com Laura foi assim. "Enxergava tudo embaçado, não conseguia ver o que estava na lousa. Agora está muito melhor". Porém, nem sempre a indicação são os óculos.

"Se o grau é pequeno, a gente consegue protelar, esperar mais um pouco. Não é todo grau que eu prescrevo para o adulto que preciso prescrever para a criança. Para colocar os óculos numa criança precisamos ter a certeza de que aquilo vai melhorar a vida dela".

Escola é a grande aliada

A escola é uma grande aliada no diagnóstico de problemas de visão em crianças e adolescentes, porque é um dos ambientes que exige maior atenção e que, efetivamente, mede o desempenho dos pequenos. Os professores podem ajudar a perceber as alterações visuais. Segundo Roseli Horita, alguns sinais são bem
característicos nas crianças que enxergam mal:

* Por não conseguir ver o que está na lousa ou nas mãos dos professores, o aluno levanta com frequência (para ir ver a lousa mais de perto), conversa bastante com os amigos, normalmente pedindo ajuda para copiar a lição ou, no caso dos mais agitados, querem brincar fora de hora ou fazer bagunça, pois não conseguem acompanhar as atividades.

* A lei da aproximação vale também para computadores e televisão. As crianças com problemas de visão normalmente chegam bem perto para conseguir enxergar.

* O aluno faz careta, franze a testa e aperta os olhos para tentar enxergar melhor.

* No caso do astigmatismo, o artifício costuma ser virar o rosto e mirar com o canto dos olhos, para tentar minimizar a distorção da imagem.

Fonte: Portal da Oftalmologia e Opticanet

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